quarta-feira, 16 de março de 2011

Crónica


Viajante Oficial de Transporte Público

Desde pequena que gosto de andar de autocarro. Não sei bem explicar porquê. Gosto de passear pela cidade sem ter que fazer esforço algum, ouvir as queijas e alegrias da sociedade, estar na rua mas ao mesmo tempo não estar. Então, por varias vezes, quer esteja aborrecida em casa, sem nada para fazer, ou simplesmente com vontade de conhecer mais e melhor a cidade, pego no passe e ando por ai no autocarro. Isto confere-me o título de viajante oficial de transportes públicos, bem como o conhecimento de todas as carreiras e respetivas paragens. No entanto, há um autocarro que desde sempre me intrigou: o autocarro numero 2.

O 2 demora uma eternidade a fazer uma viagem completa de ida e volta, desde Parada de Cunhos até à Vila Paulista e vice-versa. Este autocarro fascina-me principalmente pelo caminho que toma. Para chegar uma das localidades às outras, passa por locais inóspitos onde mais nenhum autocarro se atreve a passar, por um lado, por caminhos tortuosos pelo meio da floresta e de casas abandonadas, onde até as paragens são feitas de pedras, pintadas de cal e tinta azul, por outro lado, pelos silêncios aglomerados de vivendas, onde apenas o ladrar dos cães se faz ouvir.
Em ambos os casos, nunca ninguem sai, nunca ninguem entra. De meia em meia hora, lá passa por uma localidade ou por uma escola no meio do nada, onde toda gente sai e toda gente entra. Assim os autocarros andam quase vazios e são raras vezes em que alguém não arranja lugar para se sentar. É uma viagem longa, calma e com belas paisagens, e portanto a minha preferida de todas as carreiras. Ainda por cima, os autocarros, são do modelo mais novo que se encontra por estas bandas, e estão garantidos os bancos quentinhos e confortaveis infestados com as mais nefastas doenças, os botões de STOP gigantesco nos quais as pessoas carregam sem querer e fazem o autocarro parar uma miríade de vezes sem que ninguem saia nem entre e as portas automáticas que levam uma eternidade a abrir e a fechar e cujo alarme (que avisa quando as portas se estão a fechar) leva os senhores de idade e bengala a serem mal-educados com o condutor. É defenitivamente a minha carreira preferida, e frequentaria muti mais vezes este autocarro se passasem mais do que 5 cada dia, a horas em que de fato alguém precissassem deles.

Teresa Correia
Foto: Teresa Correia

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