Doutor, Silvino Évora, Licenciado em Jornalismo pela Universidade de Coimbra e Mestre em ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, onde foi membro do centro de Estudo de Comunicação e Sociedade e preparou o seu Doutoramento na mesma área. É Mestre em Ciências da Comunicação pela mesma Universidade, tendo feito, antes, uma Pós-graduação em Jornalismo Judiciário pela Universidade Católica Portuguesa em lisboa. Professor de Jornalismo na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, irá responder algumas perguntas por mim consideradas importantes para o conhecimento de alguns jovens estudantes caboverdianos que apostam nesta area com objetivo de regressar à Terra (Cabo Verde).
Como é que se carateriza jornalismo em Cabo Verde?
Eu carateriza o jornalismo em Cabo Verde, antyes de mais, como o de uma informação de proximidade, em que profissionais se encontram muito próximos dos principais atores sociais, políticos e agentes económicos, tendo prejuízos evidentes na própria produção da informação. O fato dos jornalistas de encontrarem diariamente com os políticos, empresários, profissionais do mundo cultural e personalidades de diferentes ramos da atividade, diariamente, faz com que surja um espaço de inibição profissional, em que muita coisa importante, do ponto de vista do interesse público não é cautelada. Por outro lado, temosum jornalismo essencialmente político, mas que não nos informa o suficiente sobre o universo político. É um jornalismo muito declarativo, pouco profundo, que não tem uma agenda e se deixa levar pela agenda do poder. Aliás, como disse numa conferência recente na Rádio de Cabo Verde, temos um Poder (político) com agenda e uma Agenda (jornalística) sem poder.
Porquê que escolheu a área de jornalismo?
Em princípio, porque, há doze anos atrás, pensava que, com o jornalismo, se podiea mudar o mundo. Hoje, tenho a sensação de que, em Cabo Verde, com o jornalismo, mal o jornalista consegue mudar a sua aldeia.
O quê que é necessário para ser jornalista em Cabo Verde?
Nada. Em Cabo Verde não é preciso nada para se ser jornalista. Todo o mundo é jornalista. desde que dormir uma noite bem e no dia seguinte achar que é jornalista. Não temos um Conselho Deontológico, não temos um Sindicato, não temos carteira profissional, não temos nenhum regulaçãi profissional. A regulação do setor anda pelas ruas de armargura. Ninguém precisa de nada para ser jornalista. A nova lei diz que a pessoa deve ser formada, mas, quando não há fiscalização da implementação do aparelho legal, não há eficácia. Portanto, em Cabo Verde já cheguei a definir o joranlismo como uma "profissão a céu aberto", onde todos entram e saem da profissão ao seu bel-prazer.
Quais são as condições necessárias para exercer jornalismo em Cabo Verde?
Como se pode ler na resposta acima, não há condições, Temos a lei, mas ela não vale nada quando não ninguem que zele pelo seu cumprimento. Não temos carteira profissional a regular o acesso à profissão. Quando assim é, todos se transformem imediatamente em jornalistas.
Que tipo de problema que as vezes se deparam ao exercer jornalismo em Cabo Verde?
O jornalismo cabo-verdiano depara-se com uma montanha de problemas. Do lado da distribuição dos jornais, temos o constrangimento de se tratar de um país arquipelágico, em que algumas ilhas se encontram quase isoladas. Isso, por si só, é sintomático de como é difícil montar um projeto editorial não do jornalismo. Temos por um lado, um lado, um mercado de baixo valor que, por outro, se carateriza por falta de liquidez no segmento da publicidade. Quando assim é, muito dificilmente se consegue exercer, com tranquilidade, a profissão. Daí que ser jornalista em Cabo Verde tende a ser uma tarefa muito complicada porque na ausência de um mercado que funciona, a tendência é outros interesses se levantarem por detrás do jornalismo.
Como é que é encarado essa profissão em C.V por parte dos cidadãos?
Pela trajetória do jornalismo cabo-verdiano, as pessoas olham para o jornalismo com algum desdém porque não reconhecem muita seriedade profissional nos nossos jornalista quando, por um lado, dizem que são livres, isentos, pluralistas e objectivo e, por outro lado, se perceber que o trabalho que dispnibilizam é nada isento. Dai que, a credibilização dos jornalistas passa antes por criar uma classe com valores profissionais vincados e que haja defesa intransigente desses valores.
Porque que escolheu leccionar jornalismo e não exercê-lo?
Muitas vezes, a vida não se de escolhas, mas sim de oportunidades. Surgiu-me essa oportunidade e alinhei-me porque gosto do ensino, até porque já tinha experiência nessa área. Porém, quando surgir a oportunidade de exercer o jornalismo, conto fazer isso, se não me encontrar em nenhuma área que estabelece padrões de conflitos de interesse com o jornalismo.
Como é que funciona a comunicação social em Cabo Verde?
Olhando para a sua organização, conta-se com um conselho de administração, que gere a empresa, uma direção geral, que gere o orgão, e as direções infra-hierárquicas, que gerem os diferentes departamentos. Porém, se se quer falar das relações que se desenvolvem no mercado, com outros intervenientes, sabe-se que há um de conivências que se estabelece entre o mundo da comunicação social e o mundo da política, Nisto tudo, quem acaba sempre por pagar a fatura é o público, que terá uma informação desinteressante, do ponto de vista do interesse público, e com pouca capacidade de escrutinar o funicionamento da sociedade.
Na sua opinião acha que os órgãos de comunicação social são controlados pelos poder político? Se sim de que forma?
Creio que os orgãos de comunicação social tendem a ser controlados pelos seus administradores e gestores, que têm conexões no mundo da política. Desde logo, não temos nenhum orgão de comunicação social que sobrevive só do mercado porque o mercado cabo-verdiano é resídual. Neste sentido, a grande incógnita é saber de onde vem o dinheiro que alimenta os orgãos de comunicação social. Porém, creio que basta analisarmos os alinhamentos políticos de cada um dos órgãos de comunicação social, facilmente começaremos a compreender melhor as lógicas que estabelecem por detrás deste mercado de baixo valor.
Teresa Correia
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