João Domingos Correia, Presidente de Munícipio do Tarrafal á dois mandatos, considerado homem povo, pelos tarrafalenses, pela sua genuidade e a forma como ouve os cidadãos.
1. Porque razão decidiu entrar na vida política atíva, partidária?
Resposta: não sei se posso dizer que entrei na vida política activa, embora tenha praticamente 12 anos nisso. O que lhe posso dizer é que entrei na política para servir Tarrafal. Nesta óptica não posso dizer que estou na vida política activa, mas sim parcialmente, apenas para servir Tarrafal. Devo, contudo, reconhecer que fui um pouco além, pois, neste momento sou também presidente da Associação dos Municípios de Santiago, de modo que já estou a servir não só Tarrafal, mas toda a ilha de Santiago.
2. Em termos políticos quais são as suas qualidades? O que é necessário para ser um bom politico?
Tenho dificuldades em responder a esta questão porque as qualidades que pensamos ter podem não coincidir com as que realmente temos. Pois, estas últimas são aquelas que demostramos no quotidiano e que as pessoas avaliam. Vou tentar dar uma resposta aproximada à questão colocada, dizendo aquilo que faço que não sei se sao qualidades ou defeitos. Resumidamente, estou na política apenas com o objectivo de servir a população indiferentemente da sua crença religiosa, da sua filiação partidária e da sua condição social. Neste sentido esforço-me para estar o mais próximo possível das pessoas, sempre disponível para as ouvir e partilhar os problemas e as soluções. Considero-me apenas um servidor publico que deve fazer o melhor uso possìvel dos recursos conseguidos pela Câmara Municipal, tentando dar grande atenção às famílias mais desfavorecidas.
3. Em todo o mundo, é voz corrente que a política e a corrupção andam juntos na vida política. Como explica este fenómeno?
Penso que a corrupção é um mal social que tende a ganhar terreno em toda a esfera da vida social. Por conseguinte, ninguém está imune a esse mal. A política parece ser efectivamente uma área propensa à corrupção porque é a esfera da vida onde sao geridos os recursos de toda uma comunidade por um grupo reduzido de pessoas. Quanto mais esse grupo reduzido de pessoas for dominada por pessoas propensas a riqueza material, maior será o risco de corrupção. A educação é fundamental no combate à corrupção. Considero que quem tiver uma boa educação não terá a tentação de se apoderar sozinho dos bens ou patrimónios de todos. "Mais vale sermos todos felizes do que ser eu sozinho feliz". Pois, este tipo de felicidade, isto é, uma felicidade individual, é, por mim, sempre efémera e não passa de uma miragem.
4. A população tem dos políticos a ideia de que prometem uma coisa e fazem outra. Na sua óptica, porquê?
Tem toda razão. Pois, nas campanhas políticas faz-se um conjunto de promessas que são intenções formuladas com base nos pressupostos que se prevê estarem reunidos ao longo do mandato. Acontece que a vida social é dinámica e que as coisas estão em constante mutação. Para que não haja muito desvio entre as intenções que sustentam as propostas eleitorais e aquilo que será posto na prática ao longo do mandato, é preciso que o político tenha uma aceitável experiência da vida, tenha um nível razoável de conhecimento na área social e económica para poder fazer propostas razoáveis e realistas. Quanto menos for a experiência na vida, quanto mais baixo for o nível de conhecimento que tem da realidade social e económica, maior será o risco de fazer propostas irrealistas e irrealizáveis.
5. Para um candidato, a um qualquer cargo, o que vale numa eleição?
Respondo por mim próprio. Para mim vale a pena fazer propostas sérias e pensar que está apenas disponível a servir a população.
6. Os políticos durante as campanhas digladiam-se, insultam-se e não têm respeito pelos adversários. Como é que depois se ultrapassam essas fracturas?
Não me alinho nesse tipo de políticas. Nunca tive tal pratica e, por conseguinte, nunca passei por essa experiência. Tenho respeitado os meus adversários políticos e tenho tido facilidades de relacionamento com todos e a todo tempo.
7. Sendo Cabo Verde uma ex-colónia portuguesa, acha que a politica portuguesa se reflete na política caboverdeana? Em que aspeto?
Por ter sido uma colónia portuguesa, nem tanto. Embora se saiba que toda a nossa organização administrativa, judicial, politica e economica, vai beber à experiencia e à legislação portuguesa. O reflexo da politica portuguesa em Cabo Verde deve-se ao facto de mantermos uma grande relação económica, administrativa e política com Portugal. Ademais que se trata de uma relação quase que de sentido único e de dependência. Basta saber que em 2010, 70% de ajuda ao desenvolvimento de que Cabo Verde beneficiou, veio de Portugal!
8. Em 2011 aconteceram as eleições presidências, em que PAICV foi derrotado pelo MPD. Ficou satisfeito com a vitória de Carlos Fonseca?
Em princípio e constitucionalmente as eleições presidenciais não sao partidárias. Mas ,em Cabo Verde, os partidos acabam por se envolver tanto nessas campanhas que o peso partidário acaba por ser determinante no resultado das eleições presidenciais. Respondendo à sua questão, devo dizer que não tenho e nem devo procurar satisfacação pessoal com o resultado das eleições, quaisquer que elas sejam. A eleição de Jorge Carlos Fonseca para o cargo do Presidente da Republica, à partida, é o prenúncio de maior equilibrio e mais transparência na gestao política do país. Neste sentido dou-me por satisfeito. Mas, acima de tudo, e o que importa e que deve dar satisfacção a mim e a todos nós, é o resultado daquilo que vier a ser o exercício do mandato. Se o actual Presidente tiver um bom desempenho ao longo do mandato e se a população sentir um efeito positivo da magistratura, eu estarei satisfeito.
9. As eleições presidências foram marcadas por alguma turbulência. Porquê?
Não tenho a mesma percepção. A não ser que se considere a luta pelo poder no seio de PAICV, como sendo um problema do País. Efectivamente, está-se perante um partido que tudo vale para alcançar o poder. Neste sentido, criaram vários factos e artefactos com vista a deturpar o resultado, mais uma vez, destas últimas eleições.
10. Considera que o Governo caboverdeano contribui, de alguma forma, na formação dos estudantes/imigrantes que frequentam Cursos Superiores?
Em princípio é uma pergunta que deve ser colocada ao Governo. Devo, contudo, dizer que tenho a minha percepção, mas nada mais do que isso. Creio ser irrefutável que o Governo tenha contribuído na formação de quadros superiores. Se esta contribuição é ou não satisfactória, já é outra questão.
11. Cabo Verde é reconhecido a nível mundial como um país pacífico. Considera que este facto nos identifica?
Acho que sim e a nossa história fala por si. Ao longo dos 36 anos após a nossa independência, não tivemos qualquer levantamento militar ou popular que tenha peturbado a ordem constitucional e a paz interna.
12. Mas, todos os dias a criminalidade aumenta no nosso País. Quais são as medidas que o Governo tem tomado para debelar contra o aumento da criminalidade?
A questão da criminalidade diz respeito à segurança interna. Esta questão tem ganhado terreno nos últimos tempos. O governo tem tomado algumas medidas, mas muito mais repressivas do que sociais. Acredito que uma parte significativa da criminalidade tem, por detrás, problemas de precariedade da situação socioeconomica das famílias. Nesta óptica, urge investir muito mais na área social, proporcionando maiores oportunidades às crianças descendentes das famílias menos favorecidas.
13. Tarrafal é um dos municípios de Cabo Verde dotado de boas características turísticas. Até que ponto o turismo esta ser explorado?
Tarrafal tem efectivamente grandes potencialidade turísticas. Entretanto, deve-se reconhecer que esta potencialidade está subaproveitada, de modo que tem tido um papel reduzido na melhoria da condição de vida das pessoas. Vários sao os problemas que condicionaram o aproveitamento desse potencial turístico. De entre eles se destacam: a qualidade da estrada que liga Tarrafal aos restantes municípios da ilha, particularmente à Cidade da Praia que é onde se encontram o Porto e o Aeroporto; o facto de Tarrafal não ter sido contemplado pelo Governo com nenhuma Zona de Desenvolvimento Turístico Integrado, não podendo, assim, atrair investimentos. Devo, contudo frisar que ultimamente vem aparecendo alguns investimentos nesta área que darão um grande contributo no desenvolvimento local.
14. Tem vindo a sofrer criticado ao longo do seu mandato por parte da oposição, até foi acusado de inércia, de não explorar os pontos fortes do Tarrafal. Perante estas criticas, quais foram as suas atitudes ou respostas a dita acusação?
Sao criticas infundadas. Nas áreas da competência da Câmara Municipal temos tido melhor desempenho que todos os municípios do país. Abastecimento de água, saneamento, urbanismo. Inclusivamente, fizemos intervenções em áreas como electrificacao, com avultados investimentos, áreas onde as competências são do Governo. Dados estatísticos confirmam que quando fomos eleitos ,pela primeira vez, Tarrafal estava no grupo dos três concelhos mais pobres do país. Neste momento, Tarrafal está a meio da Tabela. Ultrpassou onze municípios. Tarrafal é o concelho com melhores indicadores de abastecimento de água e muito acima da média no país, liderando os nove municípios da ilha de Santiago, graças aos investimentos que fizemos nos últimos anos! Tarrafal é o primeiro Município da ilha de Santiago a ter uma cobertura em rede de energia Electrica, cobrindo todas as zonas do concelho, graças ao esforço conjugado e dos investimentos realizados pela Câmara Municipal e pelo Governo! Tarrafal é, neste momento, a Cidade mais organizada, mais limpa e com maiores e mais ruas calcetadas da ilha da Santiago!
Entretanto, devo dizer que em tudo isso, o que me dá maior satisfacção é o facto de termos feito um grande investimento na área social, fazendo com que muitos jovens oriundos de famílias desfavorecidas, hoje sejam quadros formados a darem as respectivas contribuições no desenvolvimento do Tarrafal, em particular, e do País, de um modo geral.
15. Como perspectiva o futuro do nosso País, e mais concretamente do Tarrafal?
Acredito que Cabo Verde, de um modo geral, e Tarrafal, em particular, tem recursos e competências suficientes para aproveitarem as oportunidades que a economia mundial nos oferece e promover um desenvolvimento equilibrado e sustentável, desde que não precipitemos e não confundamos crescimento económico com desenvolvimento económico.
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